Médico lembra caos vivido durante crise do oxigênio no AM: ‘Não queremos que esse dia volte nunca mais’

Médico Nelson Barbosa da Silva trabalha no Hospital 28 de Agosto, em Manaus, e viveu de perto a crise do oxigênio em 2021. — Foto: Arquivo Pessoal

Há um ano, o Amazonas enfrentava a crise de oxigênio na rede de saúde. Na ocasião, pacientes morreram por falta do insumo nas unidades de saúde. O estado foi o primeiro do país a sofrer com a segunda onda da Covid.

O médico Nelson Barbosa da Silva lembrou ao g1 o que viveu durante o caos no Hospital 28 de Agosto no dia 14 de janeiro de 2021 pela a falta de oxigênio nas salas de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) disponibilizadas para pacientes com Covid:

“Foi uma correria dos familiares comprando os cilindros de oxigênio, trazendo para o hospital. Foi terrível. Sem falar das ambulâncias que chegavam toda hora com pacientes e não tínhamos como atender. Foi um tumulto”, lembrou.

Aumento de internações lotou hospitais em Manaus e acabou com estoque de oxigênio. Pacientes morreram asfixiados — Foto: Edmar Barros/AP Photo

No dia, o Hospital 28 de Agosto já vivia uma superlotação de pacientes internados pela doença. Por volta de 9h, a direção do hospital comunicou ao médico que havia a possibilidade de faltar oxigênio.

“Na UTI, todos os aparelhos funcionam com o oxigênio. Nós tivemos que fazer uma manobra com os pacientes que a gente chama de posição prona. A gente vira o paciente de barriga para baixo que aí se diminui o consumo de oxigênio para eles”, contou o médico.

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Segundo o médico, as duas salas de UTI do hospital conseguiram continuar com oxigênio, mas os outros leitos do hospital ficaram sem o insumo, dando início a uma corrida para salvar pacientes.

Barbosa contou que, apenas no dia 14 de janeiro de 2021, cerca de 40 pessoas morreram devido a falta de oxigênio no hospital.

“Nós não queremos que esse dia volte nunca mais. Nós médicos nos sentimos impotentes, porque já imaginou você não conseguir salvar as pessoas?! Não dava para salvar todo mundo. Eram muitas pessoas precisando de oxigênio e a gente não tendo como auxiliar. Esse dia tem que ser lembrado muito pelos gestores de saúde, pois serve de exemplo para que isso não ocorra nunca mais”, afirmou.

Movimentação na frente do Hospital e pronto-socorro 28 de agosto, em Manaus (AM), na tarde de 14 de janeiro de 2021. Familiares reclamam da falta de oxigênio para seus pacientes internados no hospital. — Foto: SANDRO PEREIRA/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

Cenário atual

O médico informou que, atualmente, o estado vive um aumento no número de novos casos a cada dia, mas as internações permanecem abaixo do que costumava ser durante o ano anterior.

“Na UTI onde tínhamos 37 leitos para Covid, diminuímos para 12 atualmente. Hoje, nós temos oito internados apenas. No pico máximo, nós tínhamos 40 em uma sala e mais 37 em outra só Covid. Assim que está a situação hoje”, disse.

A vacinação, segundo ele, fez com que fosse possível manter um controle de pessoas com quadros graves da doença que precisem de internação. Caso contrário, o aumento de casos e o avanço da variante ômicron no estado poderiam influenciar em um novo pico da doença.

Vacina contra a Covid-19 é ofertada em Manaus. — Foto: Divulgação

“Ainda tem muitas pessoas negacionistas, muita fake news fazendo com que as pessoas não se vacinem, mas a gente tem que colocar as mãos pros céus e agradecer as vacinas, porque só elas mudaram essa curva de óbitos”, afirmou.

O médico contou também que consumo de oxigênio no hospital não chega a um décimo do que foi durante a segunda onda da Covid. Apesar disso, ele pede que as autoridades permaneçam em alerta.

“Precisam ficar em alerta. Tem que ter essa resposta rápida ao fato. Eu acho que foi isso que faltou naquela época. A Susam até comunicou o Ministério, mas como o Ministério vinha naquele clima de negação, não acreditou muito e olha o que aconteceu. Ficou um jogando para o outro e a população que sofreu”, finalizou Barbosa.

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Aumento de casos e variante ômicron no AM

No início do ano, o Amazonas voltou a viver um aumento de casos de Covid-19. A Prefeitura de Manaus cancelou a realização de blocos carnavalescos de ruas e suspendeu previamente o repasse de verbas para escolas de samba.

Na terça-feira (11), Manaus voltou a registrar mais de mil casos de Covid-19 em 24h. Com o número, o estado registrou mais de 3 mil casos da doença em menos de 15 dias.

Na quarta-feira (12), a Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES) e a Secretaria Municipal de Saúde (Semsa) de Manaus suspenderam, por 90 dias, a concessão de férias de todos os servidores das pastas por conta do novo avanço da doença.

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