Vacinação contra a Covid-19 no Amazonas completa um ano

Enfermeira indígena Vanda Ortega é a primeira vacinada contra Covid no AM

Enfermeira indígena Vanda Ortega é a primeira vacinada contra Covid no AM

O início da campanha de vacinação contra a Covid-19 no Amazonas completa um ano nesta terça-feira (18) com 53,8% da população tendo recebido as duas doses da vacina. Outros 64,3% da população receberam ao menos uma dose do imunizante.

As primeiras doses da vacina contra a Covid chegaram ao Amazonas às 18h45, do dia 18 de janeiro de 2021, e começaram a ser aplicadas na mesma noite, em um evento realizado na capital.

A técnica de enfermagem indígena Vanda Ortega foi a primeira pessoa a receber o imunizante no Amazonas. Ela trabalhou desde início da pandemia para cuidar de centenas de famílias de sua comunidade indígena, o Parque das Tribos, na Zona Oeste de Manaus.

O estado completa um ano de vacinação enfrentando a terceira onda da doença, desta vez, causada pela variante Ômicron. Nos últimos dias, a busca por testes de identificação de Covid-19 aumentou expressivamente, o que tem levado muitas pessoas às unidades de saúde.

SPA Alvorada registrou movimento intenso nesta segunda, em Manaus — Foto: Amanda Bucão/Rede Amazônica

Apesar desta explosão de novos casos – foram 3.079 notificações só no domingo (16) e outros 2.674 registros nesta segunda (17), o número de mortes segue baixo no Amazonas, com o registro de apenas um óbito em cada um dos dois dias. Os dados são da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-AM).

Estudante tomou a vacina contra Covid em um supermercado de Manaus. — Foto: Matheus Castro/g1 AM

Leia também:

Início da campanha de vacinação

O início da campanha de vacinação, em janeiro de 2021, ocorreu num momento em que a capital do Amazonas passava pela segunda onda da Covid-19. Com recordes de casos e internações, na época, houve um colapso no sistema de saúde por conta da falta de oxigênio nos hospitais.

Por conta disso, o Amazonas ganhou atenção especial do Ministério da Saúde, avançando na vacinação e recebendo inclusive doses extras de imunizante. Atualmente, o estado é só o 22º mais vacinado do país, com 53,8% da população imunizada, segundo o Consórcio de Veículos da Imprensa.

Segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES-AM), o Amazonas possui dificuldades em relação à logística, por causa das grandes distâncias. Mesmo assim, a pasta alega que vem dando suporte aos municípios, com apoio de recursos humanos e técnicos, para levar a vacina para a população nas áreas de difícil acesso e nas zonas rurais.

Parentes de pacientes internados em Manaus fazem fila para compra de oxigênio no dia 18 de janeiro de 2021 — Foto: Bruno Kelly/Reuters

Irregularidades

Irregularidades na vacinação também marcaram o início da campanha na capital. Duas médicas, filhas de um empresário do Amazonas, tomaram a vacina contra a Covid-19 logo após serem nomeadas para atuarem na área administrativa de uma Unidade Básica de Saúde.

Segundo o Ministério Público do Estado (MPAM), em Manaus, ao menos 10 médicos teriam furado a fila para receber a vacina.

O MPE chegou a pedir a prisão do prefeito David Almeida, e da secretária de saúde de Manaus, Shadia Fraxe, apontando irregularidades na distribuição das vacinas.

Após a ação se tornar pública, David Almeida se disse “profundamente indignado com a atuação ilegal e arbitrária” do MP. Ele também afirmou, por meio de nota, que “não há o menor indício de desvio de recursos públicos, ato lesivo ao erário ou repercussão criminal”.

Ao analisar a ação do MPE, o desembargador José Hamilton Saraiva dos Santos, que atua na Justiça Estadual, declarou incompetência para julgamento do caso e o remeteu ao Tribunal Regional Federal da 1.ª Região. Entretanto, o caso voltou para o TJAM, e segue sendo analisado em segredo de justiça.

Na época, em meio às polêmicas sobre a vacinação do grupo, o prefeito de Manaus negou as irregularidades, disse que se tratava de notícias falsas e chamou os médicos investigados de heróis. Shádia Fraxe, justificou a contratação do grupo, alegando a falta de recursos humanos.

Leia também:

Primeira dose aplicada

Vanda Ortega relembra da emoção e da responsabilidade que sentiu ao ser a primeira pessoa imunizada do Amazonas.

“Havia tanta notícia ruim falada sobre a vacina, e isso me preocupou um pouco. O fato de ser a primeira indígena vacinada me levou a pensar que se acontecesse alguma coisa comigo, nenhum dos meus parentes iria querer tomar a vacina”, conta.

Por outro lado, ela também ponderou que poderia se tornar uma referência para incentivar o seu povo a se vacinar.

“Também pensei que se desse, viraria uma referência. Porque os nossos parentes já estavam com receio [de tomar a vacina]. Muitos diziam que não iam se imunizar por causa das notícias falsas”, afirmou Vanda.

“No fim, receber o imunizante foi algo muito emocionante para mim”

Os primeiros públicos a receber a vacina foram profissionais da saúde da linha de frente, idosos em asilo e indígenas aldeados.

Enfermeira indígena Vanda Ortega é a primeira vacinada contra Covid no Amazonas. — Foto: Patrick Marques/G1 AM

Megacampanhas

Assim como no resto do país, a campanha de vacinação começou a ganhar fôlego somente a partir do final do segundo semestre, após um começo de ano marcado pela escassez de imunizantes. Nos dias 12 e 13 de junho, a capital do Amazonas realizou a primeira megacampanha, cujos alvos eram todos os adultos de 40 anos ou mais.

O resto da população teve acesso, gradualmente, ao imunizante contra a covid-19. Na medida em que a taxa de vacinação avançava com mais rapidez, os números de novos infectados e mortos pela doença também passaram a registrar os menores índices desde o início da pandemia.

Em agosto, foi a vez dos adolescentes entre 12 e 17 receberam a vacina. Atualmente, toda a população com mais de 18 anos tem acesso a dose de reforço após um intervalo de quatro meses da segunda dose.

Desde o dia 3 de janeiro, Manaus passou a aplicar a quarta dose da vacina contra Covid em pessoas com alto grau de imunossupressão.

Somente a partir de novembro do ano passado, os casos voltaram a subir, alavancados pela proliferação da variante Ômicron.

Adolescentes a partir de 12 anos recebem a vacina contra a Covid em Manaus — Foto: Divulgação

Terceira onda

Após a queda vertiginosa dos casos de Covid-19, o número de notificações da doença começou a explodir após o início de janeiro, justamente quando foi confirmado o primeiro caso da variante Ômicron no estado.

Especialistas alertam que apesar de ser mais branda e encontrar uma população predominantemente vacinada, a nova mutação do coronavírus possui um grau maior de transmissibilidade, o que sobrecarrega o sistema de saúde do estado.

Leia também:

Nas últimas semanas, Manaus voltou a enfrentar sobrecarga de atendimentos em hospitais particulares, após uma nova explosão de casos de Covid-19 e síndromes gripais. Com a alta demanda, o tempo de espera triplicou e já há unidade privadas restringindo alguns serviços.

Na rede pública, também foi registrado um aumento na busca por atendimento médico. O Governo do Amazonas tem anunciado a abertura de novos leitos para atender a demanda.

Mesmo que a nova variante tenha demostrado mais facilidade para furar o bloqueio vacinal do que outras cepas, especialistas argumentam que as vacinas continuam sendo essenciais e são eficazes contra as formas mais graves da doença.

Explica o diretor-presidente da da Fundação de Medicina Tropical (FMT-HVD), o infectologista Marcus Guerra:

“As vacinas têm protegido prioritariamente as pessoas contra hospitalizações e infecções graves ou críticas. No caso da Omicron, mesmo com capacidade de evasão ao sistema imune, a infecção é contida e a imunização com reforço contribui de forma robusta na proteção aos infectados”,

Vacinação infantil

Nessa segunda-feira, Manaus começou a vacinar crianças com comorbidades e deficiências, de 5 a 11 anos. A imunização ocorre em quatro pontos da capital (Veja a lista dos locais abaixo). São 260 mil crianças nessa faixa etária que estão aptas para receber o imunizante.

De acordo com a Prefeitura, serão quatro pontos de vacinação para esse público: o Parque Cidade da Criança, na Zona Sul, Clube do Trabalhador-Sesi, na Zona Leste, e Centro de Convivência Magdalena Arce Daou, na Zona Oeste, com funcionamento das 9h às 16h; já o quarto ponto será no shopping Manaus Via Norte, zona Norte, que funcionará das 10h às 16h.

Vacinação para crianças começou em Manaus nesta segunda. — Foto: Matheus Castro/g1

Veja os vídeos mais assistidos

Deixe um comentário